Muitos artigos, análises, comentários se debruçam sobre o número de mortes pela COVID-19. É um dado muito importante, para além de ser o que mais impressiona a opinião pública. Também é, de forma muito imediata, o que dá mais indicações sobre a carga que está a ser imposta aos sistemas de saúde. Distinga-se índices: a taxa de letalidade é a razão entre o número de mortes e o número de infetados. A taxa de mortalidade, como para qualquer causa de morte, é a relação entre o número de óbitos e a população.
Também se vê frequentemente a comparação entre os números de mortes ou as taxas de letalidade em situações diferentes: países ou regiões diferentes, fases diferentes da epidemia. Ora não é válido fazer comparações entre países baseadas no número de mortes ou na taxa de letalidade da COVID-19:
1. Os critérios de atribuição da causa de morte são diferentes e nuns países confirmam-se laboratorialmente todos os óbitos com quadro clínico de pneumonia grave, enquanto que outros (por exemplo, Alemanha, com um número relativamente baixo de mortes) não se faz isso.
2. A taxa de letalidade é calculada como número de mortes a dividir por número de infetados. O numerador é menos afetado por diferenças entre países (apesar do dito em 1.) do que o denominador, que depende muito da política de testes, da fiabilidade dos dados.
3. A situação clínica de base é diferente, em relação a comorbilidades e fatores de risco, alguns dos quais até relacionados com o clima (por exemplo, doenças respiratórias crónicas).
4. Os recursos hospitalares são diferentes de país para país e afetam a letalidade.
5. Sendo os idosos o principal grupo de risco com elevada letalidade, a taxa média de letalidade é afetada pela estrutura demográfica, diferente de país para país.
6. Há fatores sociais e culturais que afetam a exposição dos idosos (padrões de socialização, taxa de contacto, estrutura familiar, concentração populacional, etc.)
7. A taxa de letalidade aumenta sempre com a expansão da epidemia e por isto, ela é, muito maior na Itália ou na Espanha do que na Suíça, na Áustria ou em Portugal. Em boa parte deve-se a que, numa primeira fase, os idosos estão mais resguardados do contágio, o que se altera progressivamente com o aumento do número de casos.
Assim, só na Europa, as taxas de letalidade ao dia de hoje variam entre 0,4% na Islândia e 12,5% na Itália, passando por valores baixos (menos de 3%) em Portugal, Finlândia, Chéquia, Áustria, Alemanha e Noruega, por exemplo; valores médios (até 6%) na Suécia, na Dinamarca ou na Suíça; e valores preocupantemente altos na Itália, na Espanha, na França e na Espanha – todos com elevado número de infetados – e também, por exemplo, na Holanda, no Reino Unido e na Bélgica.