No quadro do pós-modernismo, irracionalista, fraturante, quadro ideológico dos intelectuais “petty”, as causas tomaram conta da ação política baseada na ideologia de classe, na noção da estrutura da exploração, da natureza do sistema. Nos pós, também é o pós-estruturalismo, relativizando tudo, abolindo todas as regras de aferição do rigor.
Agita-se uma bandeira, não se reflete, vai-se na onda. Até em coisa tão elementarmente simples como a linguagem, controlada orwellianamente pelo politicamente correto, ou melhor pelo politicamente caricato.
Os marxistas lúcidos têm a obrigação de desmontar isto, como Marx fez, como manifestação ideológica do radicalismo pequeno-burguês ao serviço final do capitalismo.
Um dos temas em foco é a emigração.Claro que, em tempos de imperialismo unipolar, de destruição de estados, de remissão de milhões de pessoas para a situação de refugiados, estes têm o direito a toda a proteção humanitária.
No entanto, as reações neofascistas contra as migrações não se referem a estes, uma minoria. Como sempre esteve em jogo no fascismo, o problema é o da convulsão da estrutura do mercado de trabalho, a emergência de competições.
Vem-me a propósito a minha experiência do racismo em Angola, há 50 anos. Grosso modo, havia três grupos de portugueses brancos: 1. os velhos colonos, na onda de Norton de Matos; 2. os militares da guerra colonial que lá ficavam; 3. o “batalhão Ferreira da Costa”. Os primeiros tinham um racismo “soft” em que a cor da pele mudava relativamente pouco em relação ao “racismo” contra o pobre reinante em Portugal. Os segundos tinham aprendido a respeitar o negro como combatente, como homens tesos. O pior era o batalhão, arregimentado na rádio por esse fascista, “para Angola, em força”. Eram gente subquaificada, que se foram defrontar com uma camada de africanos – contradição do colonialismo fascista – que o regime tinha “promovido” a trabalhos menores, como motoristas, camionistas, contínuos, empregados de restaurante. Foi nessa competição que se desenvolveu o racismo mais virulento.
É isto que se está a verificar na Europa, com os migrantes a preencherem miseravelmente, sujeitos a toda a exploração, os lugares de que europeus foram despedidos. O exército laboral de reserva, já discutiu Marx há tantos anos.
A esquerda romântica pode ficar na ilusão política das suas causas, mas sempre a dar tiros nos pés. É urgente diferenciar a emigração por causas humanitárias e a emigração económica. Esta sempre foi controlada e esse controlo é hoje fundamental, para combater a emergência do fascismo. E o combate, forçosamente internacional, não se pode fazer a jusante, com milhares de pessoas em risco de vida, mas a montante, eliminando o tráfego de seres humanos. Se se destruiu a Líbia como estado, então que haja agora uma intervenção legítima para eliminar negócio tão desumano.
A regulação da emigração económica é-me familiar desde criança, como açoriano, terra de emigrantes. Sempre ouvi falar das célebres e desejadas cartas de chamada. Era violência contra os direitos humanos?
Há dias, a nova ministra britânica do Interior, Priti Patel, disse que “she would stop the “automatic right of entry for EU citizens, with or without work” in order to give the “type of preference to brilliant scientists, academics and highly skilled workers that we want to see more of”. (“ela iria acabar com o “direito automático de entrada para os cidadãos da UE, com ou sem trabalho”, a fim de dar preferência a cientistas brilhantes, académicos e trabalhadores altamente qualificados de que queremos ver mais gente.”) É criticável?