Energias há muitas!

Muitas coisas esotéricas ou de filosofias antigas apelam para a energia. Para aplicações médicas, a base fantástica da energia é qualquer coisa invisível que circula pelo nosso corpo e serve de suporte à vida. Isto não é mais do que o velho vitalismo. É curioso como desacreditámos todas as conceções metafísicas ocidentais da vida — os quatro humores e sua relação com os quatro elementos, os seus desequilíbrios, o excesso de calor a justificar as sangrias, o diagnóstico pelo pulso e pela urina — mas olhamos com simpatia as equivalentes ideias orientais. A Madame Buterfly não tinha piada nenhuma passada em Nápoles.

Tudo isto mostra desconhecimento de noções científicas básicas, como o que é a energia. Não é nada que circule, que faça funcionar o corpo. Energia, cinética ou potencial, é pura e simplesmente o que produz trabalho, e que se mede pelo trabalho, ao longo do tempo. E=W*t. No caso da energia cinética, é E=1/2*m*v^2. E o trabalho é o que faz uma força a deslocar um corpo ao longo de uma extensão. W=F*L. E força é o que faz uma massa acelerar o movimento, ao ser-lhe aplicada. F=m*a. E aceleração é o aumento da velocidade em função do tempo. A=dv/dt=L/t^2.

Física elementar. Todos os outros significados de energia são metafísicos ou então, muito bem, analogias de linguagem comum. Nada que sirva de base a medicina racional e de base científica.

É como o espírito, ou a alma para os religiosos. Lê-se frequentemente, nos textos de “clínicas esotéricas”, que há uma trilogia, corpo, mente, espírito. É verdade que ainda quase nada sabemos dos mecanismos biológicos da mente, mas a rápida evolução das neurociências aponta para que o “espírito” é uma criação metafísica para preencher esse vazio de conhecimento. É reconfortante, porque permite paraísos, regressos a vidas passadas, conversas com familiares mortos. O Homem é mesmo muito carente.