Tenho escrito sobre o carreirismo universitário, no domínio da governação. Não generalizo, mas há uma tendência notória para a promoção da mediania numa via paralela ao melhor do que a academia tem, o ensino construtor das mentes e a criação científica.
Pelo contrário, parece que são principalmente os que falham ou se sentem falidos nestas atividades nobres os que são atraídos pela gestão e pelo brilho do poder da governação, seja das universidades seja das suas faculdades e institutos.
A meu ver, reina hoje a mediania, senão a perversão autoritária. Tivemos reitores de grande envergadura intelectual. Só para citar alguns exemplos, Sérgio Machado dos Santos, Júlio Pedrosa, Alberto Amaral, António Nóvoa. Homens com projeto, com sentido de missão.
Depois, vieram carreiristas sem programa que não seja o da sua afirmação pessoal. Mas constituiram redes de poder, fizeram do CRUP um clube de amigos. O mesmo em cada instituição. O amiguismo sem qualidade impera na formação das equipas reitorais, com consequência na sucessão. Um reitor nomeia vice-.reitores e sabe que um deles será o sucessor, ao fim do termo máximo de mandatos, para lhe manter a rede de influências. Porque, em princípio, um reitor ambiciona um lugar a seguir, não a reforma. Infelizmente para eles, vão escasseando as hipóteses: A3ES, Fundação das Universidades, CASES, CNE, etc. Vão restando as fundações que criam para a sua reforma.
O mesmo nas faculdades e outras unidades orgânicas. Com o fim do mandato, é fartar vilanagem, é o exercício máximo da troca de favores, nacional e internacional. Um diretor que criou redes internacionais sem qualquer interesse mas com reuniões frequentes em hotéis de cinco estrelas e com viagem em primeira, que nomeia para conselhos consultivos fictícios e é nomeado para outros pelos nomeados, tudo isto é hoje vulgar e dá o conforto de uma situação depois do termo definitivo do mandato.
O sistema está corrompido até à medula. Geringonça ou não, quero ver uma proposta para as legislativas no sentido da constituição de um grupo de trabalho, independente, de gente com alto nível cívico e cultural, para a revolução (digo bem) da administração pública. É o cruzamento da ética, da eficácia, do direito, da técnica de gestão, da sociologia das instituições, das relações humanas.